sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Retratos de uma cidade grande



 

     Como todo cidadão jovem de uma capital, acordo bem cedo e saio de casa para enfrentar as movimentadas vias de uma cidade grande, onde preciso esperar quase uma hora por um ônibus que mais parece uma lata de sardinha.

     Quem vive na região rural e nunca visitou uma cidade grande pode se assustar ao passar por um rio que fede mais que esterco ou ver um deficiênte pedindo dinheiro para comprar remédios porque o governo aumentou o preço dos medicamentos.

     Depois de dar voltas e voltas pela cidade, finalmente chego à escola que por um milagre não está lotado. Após longas e estressantes aulas, onde os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem, preciso fazer o cansativo trajeto de volta para casa, desviando de ruas onde vários alunos da mesma escola que estudo estão fumando e mulheres estão gritando.

     Já são e salvo em meu refúgio (que foi assaltado semana passada), passo a me auto-estragar com poluição mental: roubos, mortes, violência, estupros e tudo o que pode existir de ruim que é apresentado na televisão. E antes de dormir, termino de me estragar lendo as notícias urbanas em um "bom jornal", que também me ajuda a perder a esperança em meu país, ao mostrar a economia, a cultura e até a seleção de futebol caindo. E o que sobe são os impostos, a taxa de desemprego, a moeda estrangeira e a inflação.

     Por isso não posso fechar os olhos, encostar minha cabeça no travesseiro e dormir sossegado sem antes dobrar meus joelhos e pedir a Deus proteção, paz e dias melhores, mesmo sabendo que isso é fácil pra Ele mas praticamente impossível para nós, seres humanos... E racionais!

 

 

 

                                            Victor Augusto